sábado, 30 de março de 2013

Cem anos de Luiz Gonzaga, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó) e Belo Sertão!



Publicado em julho 11, 2012 por 

Estátua de Luiz Gonzaga em Campina Grande, na Paraíba. Foto: UOL
Estátua de Luiz Gonzaga em Campina Grande, na Paraíba. Foto: UOL

Fonte: Portal EcoDebate
[EcoDebate] Estamos celebrando aqui no Nordeste os cem anos do nascimento de Luiz Gonzaga. Nasceu em 13 de Dezembro de 1912. Além da dimensão artística, é indubitável o papel de sua música na difusão do imaginário sobre o Nordeste, inclusive do ponto de vista ambiental e social.
Fiz com Targino Gondim e Nilton Freitas o CD “Belo Sertão”, numa tentativa de valorizar a importância social da música de Luiz Gonzaga. Fizemos um diálogo de composições como o pout pourri de Asa Branca (Asa Branca, Triste Partida e Volta da Asa Branca), Súplica Cearense, Jesus Sertanejo, Riacho do Navio, etc. Fomos dissecando o que significa cada uma dessas músicas nesse contexto, porque elas existem, qual a razão de tanta celebridade desses clássicos nordestinos. Ao mesmo tempo, na lógica da convivência com o semiárido, compusemos – inclusive com outros compositores – Água de Chuva, Beleza Iluminada, Belo Sertão, Boato Ribeirinho, Estalo de Fogueira e outras.
Curioso como esse trabalho se difundiu no Nordeste muito mais nas escolas, universidades e setores da educação popular que propriamente no mundo do show business. Há inclusive monografias de mestrado estudando o semiárido a partir da música, influenciadas pelo que viram e ouviram no CD.
Foi Luiz Gonzaga, junto com seus poetas como Zé Dantas, Patativa do Assaré e Humberto Teixeira – muitos outros – que divulgaram o sertão nordestino que está no imaginário do povo brasileiro. Claro que pintores como Portinari, poetas como João Cabral de Melo Neto, romancistas como Graciliano Ramos, dramaturgos como Ariano Suassuna, se somaram nessa divulgação, mas como uma crítica à crueldade da fome e da sede que pairavam sobre o semiárido.
Hoje temos a convivência com o semiárido. Acabamos com as grandes migrações, as frentes de emergência, a mortalidade infantil, os saques. Mesmo numa seca como essa, a tragédia social já não reina como nos tempos da “Asa Branca”.
A música de Gonzaga continua viva por ser uma obra prima da cultura popular, mas a nossa realidade mudou. Há muito por caminhar, mas grande parte do caminho foi feito. Gonzaga gostaria de ver a volta de grande parte dos migrantes nordestinos para o Nordeste.
Sem perdermos nossas raízes culturais, principalmente a musical, hoje já podemos fazer novos baiões, novos xotes, novos rastapés, um novo forró, para a alegria nordestina que nunca morre.
Nesses cem anos de nascimento de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião vai fazer a festa no céu enquanto nós a faremos aqui na Terra, até o dia que Deus permitir.
Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.

Beleza Iluminada  

1
Zezito de Oliveira · Aracaju, SE
17/9/2011 · 5 · 5
A cena das mulheres carregando suas latas de água na cabeça é clássica. A beleza rude da cena não pode ocultar todo o sofrimento imposto ao corpo feminino. Começando desde criança, as mulheres carregarão em sua pele, em seus músculos, em seus ossos a dureza desse trabalho repetitivo e pesado. Com o passar dos anos alargam-se os ombros, enrijecem-se as batatas das pernas, aparecem os problemas de coluna. A cena, porém, tem sua beleza. Caminhando esguias e retilíneas, forçadas pelo equilibrio da lata d'água sobre a cabeça, é praticamente um desfile sobre as estradas calcinadas do sertão. Para alguns também é um momento em que as mulheres se encontram a sós, longe dos homens e onde podem conversar a vontade seus problemas pessoais.  OUÇA/BAIXE   AQUI

Água de Chuva  

Zezito de Oliveira · Aracaju, SE
7/9/2011 · 5 · 6
Essa música foi e é fundamental na cultura semi-árida. Ela é artisticamente original e linda, socialmente densa, registra a crueldade da realidade, a manipulação política, mas não aponta saídas, exatamente porque naquela época, não se tinha claro as saídas. Mas hoje elas existem. Por isso, sem a pretensão de alcançar o nível artístico desses homens, já se faz música falando da convivência com o semi árido, afirmando claramente que a vida aqui é possível sempre, com dignidade, desde que a adaptação ao ambiente seja feita com respeito a natureza e associando-se a ela, não combatendo-a. Um dos segredos chaves da convivência com o semi-árido é guardar a água no momento das chuvas e tê-la nos momentos em que naturalmente não chove. OUÇA/BAIXE  AQUI


Música do CD Belo Sertão, para saber mais, clique aqui

quinta-feira, 28 de março de 2013

Arte, saúde e fé no Sertão Vivo - uma jornada diferente!

28.03.13 - Brasil

Zé Vicente
Poeta e cantor
Fonte: Adital


Se o tempo é quente e as feridas da grande seca estão por todos os recantos da Natureza, a lua nova no céu do sertão, vigia com a gente. Os meninos os animais e os passarinhos seguem na grandiosa sinfonia da alegria de sons e cantos da vida, que teima e brota a cada neblina, mesmo se os raios do sol queimam nos dias desta desafiadora transição.
Foi nesse clima que chegamos no Sítio Aroeiras, entre os dias 13 a 19 de março de 2013 para tocarmos nossas ações, de cuidados com:
A saúde – promovendo a primeira etapa de capacitação em Homeopatia Popular, nos dias 15 a 17, sexta a domingo. Dias de formação com a Assessoria do Pe. Toninho, vindo de S. Paulo. Um seguidor apaixonado do Projeto de Homeopatia Popular e participante da Associação Brasileira de Homeopatia Popular, com Sede em Cuiabá-MT. O evento promovido por nós do Projeto Sertão Vivo, com a parceria de amigos, como Miguel, Diretor da Faculdade Católica do Cariri, de Cícero, vindo de Altaneira, também da região do Cariri, do Ivo e Zé Neto, da Floresta do Bode, em Lavras da Mangabeira. O grupo de 20 pessoas, sendo 13 estudando, mais a equipe de apoio, caminhou num clima de leveza, bom humor e partilha de saberes e muitas outras experiências de ações de cuidados com a vida humana e com toda a natureza. Durante os dias, em baixo da grande árvore, Cajaraneira, um tipo de imbu-cajá, ou na sala da Casa Mãe, as aulas e práticas aconteceram de maneira intensiva. As noites, celebramos as novenas tradicionais a S. José, uma devoção de 61 anos, onde além de orações e cantos animados, partilhamos os momentos marcantes vivenciados por todos. Na noite do sábado, 16, uma equipe foi com Pe. Toninho à Comunidade vizinha de Guassussê, onde foi celebrada uma missa bem participada, em sintonia com os festejos a S. José e em solidariedade à familia da animadora, Maria Vilani, cujo esposo foi morto por criminosos em seu comércio, no dia 05 de dezembro do ano passado. Vilani, este vê presente na abertura de nosso Curso de Homeopatia, deu seu testemunho e solicitou nossas preces. Durante a celebração, podemos também partilhar informações sobre o Projeto de Homeopatia Popular.
Dia de Arte na Roça:no dia 18, aproveitamos para visitar as escolas e amigos, convidando para o Dia de Artes na Roça, lembrando que é o oitavo ano em que iniciamos as, chamadas Jornadas de Artes na Roça. Temos realizado várias atividades no campo da arte e educação ambiental. À noitinha, um andor com imagem de S. José foi trazido de Guassussê para a novena em Aroeiras e no dia do Santo ser levado de volta em procissão. Na madrugada do dia 19, veio aquela chuva tão esperada por todos os viventes do Sertão que sofrem com uma das grandes secas da nossa história. A felicidade foi geral, nem dormimos mais, a partir das quatro horas da manhã, conversando, tomando o café feito por Hézio, aparando água nas biqueiras... Mais tarde, cerca de 70 pessoas –crianças, jovens, professores...- chegam de ônibus,bicicletas,moto e a Pé. Todos, correndo pelas árvores, comendo cajaranas, querendo fazer artes. Depois de uma gostosa sensibilização no Terreiro dos Ancestrais; vimos o DVD da Jornada de Artes-2012 e em seguida fomos para os grupos: Mônica, com a turma para o Teatro; Fabiana, com garotas que queriam pintar e customizar as roupas; Ivo, além da captura de imagens, motivou uma turminha com desenhos, ajudado por uma professora. Eu fiquei com um grupo que desejava poetizar, também fui ajudado por outra professora; Francisco "Machado de Prata” animou os meninos com a Capoeira. Nena, Dos Anjos e Denir, prepararam o lanche, com sucos naturais e bolachas, para todos. O lema provocativo: "SERTÃO VIVO, JUVENTUDE, É ARTE, É ATITUDE!”, que foi se adaptando a cada categoria: "SERTÃO VIVO, MENINADA, É VIDA PRA SER CUIDADA!” A turma da maturidade gritou também: "SERTÃO VIVO É DOS VELHINHOS, DAS ÁVRORES, DOS PASSARINHOS!”...
Foi bonito de ver e vibrar com o que foi criado em tão pouco tempo, como grito de denúncia das crianças e jovens contra a dura realidade de violência e crimes ambientais ocorridos em nossa região, como acontece em todo o Brasil, mas também em gostosa harmonia com a grandiosa sinfonia dos sapinhos, passarinhos, borboletas e outras criaturas do sertão em celebração permanente da beleza sagrada da vida.
Com a procissão de S. José, que reuniu perto de mil pessoas, encerramos mais um momento marcante, do encontro entre Arte, Fé e Saúde, esse trio que alimenta e traz sentido a VIDA, sobretudo quando, com ele, teimamos abrindo caminhos de encantamento e cuidados especiais que sempre são bem-vindos, para nosso BEM-VIVER!
A nossa Trilha Ecológica, realizamos no dia 14, com a turma que chegou primeiro. Fomos guiados por Hézio, para os lados do velho baixio dos Coqueiros, onde observamos os sinais de chuvas, no canto dos Anuns Pretos e colhemos Mari, um tipo de leguminosa que, cozida, a gente quebra e tira uma castanha comestível, muito usada por nossas avós e mães, como alimento para os filhos e de suas folhas faziam chás para fortalecimento do sangue após os partos.
O sentimento é de alegria e agradecimento a quem veio de perto e de mais distante, trazendo os alimentos e presentes mais diversos a serem postos na mesa e na casa para serem compartilhados – Hélio com jerimuns, couve e melancia, de sua vazante, ali no açude Pontilhão; Cicero, com o doce e manteiga da terra, feitos pela mãe; Zé Neto, com frango, feijão e pães caseiros feitos pela esposa Joísa; Miguel, trazendo pequi do Cariri e a cachacinha para caipirinha; o bispo Diocesano de Iguatu, Dom João, que chegou junto, mais uma vez, com apoio financeiro para a feira; o jovem Moisés, filho do compadre Zé Darlô, trouxe o cheiro verde de sua horta, para cada dia; a família de Hézio, com parte da polpa de fruta para os sucos; a amiga Francisca Pérsico, mandou 12 lençóis, uma rede e talheres de presente; Gigi Castro trouxe uma bela arte, criada pelo seu filho, para a Casa Mãe e livros para nossa biblioteca; enfim bens visíveis e invisíveis, feito de pura e boa energia, oferecidos para o bem comum, mostram que mesmo na dureza da seca, a fartura é um tesouro que sempre pode nos visitar.
Assim foi a nossa JORNADA DE ARTES NA ROÇA, neste 2013, cujos frutos,com certeza sempre hão de chegar no tempo favorável.
Zé Vicente, lua cheia de março
e-mail: zvi@uol.com.br

Baixe e Ouça um dos primeiros LPs gravado por Zé Vicente em parceria com Babi Fonteles


 


"Babi Fonteles & Zé Vicente Em Canto" - O Long Play


Eu sou do tempo do LP, ou long play.

Quem não gravou um LP, não conhece a emoção do demorado processo que era a produção daquele imenso disco preto, cheio de sulcos a serem preservados de arranhões, que tocava um som com fundo de chuva fina.

O primeiro - e o único - LP que gravei, "Babi Fonteles & Zé Vicente Em Canto", uma produção independente, carrega consigo muitas histórias. Desde sua primeira versão em cassete, em 1991, este álbum me levou a lugares a pessoas entre os/as mais inusitados/as de minha vida. Lembro, por exemplo, o show realizado no Teatro Romano, em Verona, na Itália, no dia 13 de junho de 1992, quando milhares de pessoas se apinhavam dentro do recinto para nos assistir e, depois, invadindo o palco para cantar nossas canções e pedir bis inúmeras vezes, até que os seguranças nos pedissem para parar, por receio de que a estrutura do palco não aguentasse o peso de tanta gente.

Compartilho com vocês, amig@s, este trabalho já em sua maioridade de 18 anos!

Guardarei as histórias para contá-las aos poucos, neste espaço. Por ora, ofereço a vocês o texto escrito a quatro mãos com o parceiro Zé Vicente, que serviu de apresentação no encarte do LP.

Abaixo, ofereço o link para que você possa baixar as músicas e a capa da versão em CD, fabricada a partir do ano 2000 pelas Edições Paulinas.

BOM LEMBRAR!

Junho de 91.

Nos encontramos em Recife,

Primeira gravação em cassete de “Em Canto”.

Era inverno no litoral

Chovia, chovia.

Tudo marcado de novidade e sonho.

A banda juvenil “Flor da Pele”

- Geraldo, Naldo, Léo, César Michilles –

Meninos lindos, plenos de audácia e alegria!

Ana Diniz, a Bisquí, presente

Companheira na voz e no carinho.

Margareth Malfliet nos olhando de longe

Encorajando com sua solidariedade concreta,

Dizendo sempre “vão sem frente!”

A vocês, cambada querida,

A quem deu força sem nada exigir,

Um beijo de ternura e saudade!

Nasceu “Em Canto”

Com direito até àquelas vigílias e lágrimas

Noite adentro,

Coisas da vida!

Março de 93,

Fortaleza 31 graus.

Estamos gravando o disco “Em Canto”.

Novo adjunto de energias, recursos, suores e paixão!

Tem mais gente se “em cantando”

Na cartada,

Nossos parentes artistas:

Pingo de Fortaleza, Eugênio Leandro, Flávio Paiva,

Luis Carlos Fonteles e tantos outros

Indicam contatos importantes,

Vêm participar com brilho e cumplicidade.

Nossos queridos Zé Maria, Lúcia, Durval, Geosa

Nos entregam a “chave da casa”

E nos sentimos em família!

O bloco de apoio econômico

E é um leque que se abre sempre mais

Contemplando até apoios “anônimos”,

Incluindo algumas instituições a quem recorremos

Na certeza da importância cultural do nosso projeto,

Mas na humildade de quem necessita:

Companheiros(as) de Cà Forneletti – Itália,

Universidade Federal do Ceará (UFC),

CBC & Associados Propaganda LTDA.

Estamos certos, outras mãos chegarão
E já respiramos aquele ar de satisfação

E reconhecimento!

Olhamos aqui, prá dentro da gente,

E sussurramos ao coração:

- vamos, pé na estrada

Afirmando na música

Que vale a vida, a beleza,

Todos os passos de resistência cultural

Ensaiados por nós, povo,

Aqui, no sertão do mundo.

A hora exige

O coração pede.

Valeu, povo querido!

Zé e Babi.